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Ecologia e Desenvolvimento
Editor
Delmar Bressan
Julho/Dezembro de 1991
Editorial
O grande desafio que se apresenta à civilização contemporânea vincula-se, por certo, à concretização de um outro paradigma de desenvolvimento, capaz de fazer emergir formas novas de relacionamento entre os integrantes dos blocos geoeconômicos, ou, mais objetivamente, entre os países do Primeiro e do Terceiro Mundo. Em outras palavras, impõe-se a necessidade histórica de reorganização dos mecanismos políticos, econômicos e tecnológicos criados pela humanidade, de modo a torná-los mais justos e eficazes e a evitar a degradação da natureza e dos homens.
É razoável imaginar que o ritmo atual de utilização dos recursos naturais – cerca de 7 milhões de hectares de florestas tropicais desmatadas na década de 80, 6 milhões de hectares de terras produtivas transformadas em desertos a cada ano, 5,5 bilhões de toneladas de carbono, na forma de Co2, lançadas na atmosfera devido ao consumo de combustíveis fósseis etc. – conduzirá a sociedade moderna a impasses, cujos desdobramentos ainda não são de todo previsíveis.
Este quadro deve ser conectado com os assombrosos números referentes às condições sociais reinantes em diversas partes do mundo. De acordo com dados da Nossa Própria Agenda existiam até 1990, na América Latina e no Caribe, 240 milhões de pobres, aos quais podem ser acrescidos outros 38 milhões distribuídos entre Estados Unidos e Canadá. E mais, na América Latina e no Caribe, 44% da força de trabalho encontram-se desempregados ou sub-empregados, enquanto a renda per capita dos latino-americanos caiu quase 1 % ao ano, de 1981 a 1990. No entanto, a transferência de recursos do continente apresenta sentido inverso: desde 1982, vêm sendo transferidos US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões líquidos por ano, para o mundo industrial.
Os elementos aqui reunidos constituem razões suficientes para grandes alterações no cenário mundial. Alterações que passem ao largo do naturalismo ingênuo, de um lado, e do tecnicismo desbragado, de outro. Portanto, espera-se que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92) não seja um convescote internacional, mas sim, um momento de diálogo e de entendimento e, em conseqüência, o pontapé inicial das mudanças nas relações entre os homens e entre estes e a natureza.
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