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Olhares sobre o Brasil

Editores convidados
Antonio Carlos Robert Moraes
Ronaldo Mota

Junho/Dezembro de 1999

Editorial

Como podemos significar o pronome nós em tempos de neo-tribalismo? Segundo alguns gurus de ocasião, a aventura da modernidade e as utopias de uma identidade universal fraturaram-se em laços de vinculações comunitárias ou tribais.

Nós, nessa perspectiva, seria um pronome apenas possível no âmbito da vida pequena e descuidada em que partilhamos idiossincrasias. “Passou o tempo da política”. Resta perguntar: com qual passo o mal-moderno mede o tempo em que o nós parece encurtar-se?
E por aqui, ao tempo desses quinhentos, como pronunciamos nós? Quais são as estratégias demarcacionais que estamos dispostos a reconhecer? Será que não conseguimos mais reconhecer o que pode nos limitar e constranger ao largo de nossas diferenças?

Ou nos resta apenas a opção de sermos partidos em pedaços cada vez menores e irregulares, com a boa desculpa das singularidades? Aqui devemos nos perguntar como poderíamos ter qualquer singularidade sem as identidades, os pertencimentos e as territorialidades que nos tornam humanos. Ser humano depende da nossa inscrição na prática de uma virtude, a da racionalidade. Que essa virtude seja vista como uma substância é apenas um dos tantos equívocos que nos escapa.

O território humano está no âmbito dessa força normativa que nos constrange.

As possibilidades de dizermos nós, diante da complexidade do mundo, certamente dependem de se compreender melhor a natureza das particularidades, de um lado, e de outro, daquilo que permite que se fale, com sentido, em humanidade. É com esse compasso e com esse intervalo que se desenha o espaço de um país, cuja identidade não está acabada. O passado, ao contrário do que se pensa, não está atrás de nós, e sim na nossa frente, à espera dos novos sentidos que podemos lhe conferir.

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