As duas expressões do intrincado tema em foco nesta ocasião – Natureza e História – são apenas balizas que marcam o enigma que somos nós mesmos. Como dizia um grego antigo, “o fogo queima da mesma forma em todos os lugares, mas o justo, o direito, muda em cada lugar”. Acostumados que fomos a uma fácil disjunção entre o cultural e o natural, enfrentamos hoje uma verdadeira carência de instrumentos que ajudem a pensar nossa conjuntura de humanidade, nosso “contrato natural”. Na atualidade somos obrigados, por todas as evidências acumuladas pela investigação humana, a recusar o que agora podemos ver como uma falsa oposição entre natureza e história. Que estas expressões designem domínios diferentes, isto não está em disputa. O que se discute é o tipo de conjunção designado pelo “e” que as une. O que se coloca sob questionamento é que haja sentido em pensá-las como totalidades independentes, que mantenham entre si tão somente relações externas.

Estamos, no entanto, muito longe de soluções fáceis de dissolução da natureza na história, na já perdida hipótese de uma racionalidade onipotente, completa. Tampouco faz sentido queimar incenso em honra de uma história frágil, encompassada pelo altar da mãe-natureza. Ao contrário, tudo indica que devemos apostar nossa insônia numa nova compreensão das relações entre natureza e história, na qual estes termos sejam tomados de modo que possamos ver uma determinação recíproca. Quem sabe então poderemos um dia falar com tranqüilidade acerca de uma história natural dos homens e de uma natureza historicamente determinada.