Entre as dificuldades enfrentadas para consolidar esse modelo de controle de pragas, a mais severa delas deriva, sem dúvida, da diversidade de cultivos conduzidos em cenários igualmente diversificados, típicos de um país continental. Isso exige soluções – tanto para o controle biológico quanto para sua aplicação no contexto do manejo integrado de pragas – que sejam desenvolvidas localmente ou para pragas e cultivos específicos.

Por outro lado, há diversidades edafoclimáticas que, dependendo das suas características, impõem aos organismos e aos sistemas de aplicação particularidades e necessidades de adaptação. São notáveis tais diferenças quando se observa, por exemplo, o uso de fungos em cigarrinhas da cana-de-açúcar, de parasitoides em lagartas no tomateiro ou de nematoides em pragas florestais. Em qualquer desses casos, os agentes de controle e o organismo-alvo apresentam uma série de especificidades que demandam investigações e tempo para sua aplicação no campo.

O Brasil vive um momento singular de discussão e de fomento de pesquisas sobre estratégias de controle biológico. Isso se verifica em universidades, institutos de pesquisa e/ou empresas, muitas vezes de forma integrada e complementar, o que deve ser comemorado e consolidado. O estímulo ao desenvolvimento de produtos e de soluções biológicas estará ligado a modelos isolados de supressão de pragas, porém muito provavelmente será apropriado pelo manejo integrado, apoiando outras estratégias e mostrando resultados econômicos melhores e, sobretudo, sustentáveis.

Nos últimos anos, observou-se o surgimento de várias empresas destinadas à comercialização de agentes de controle biológico, atendendo, em parte, à crescente demanda por esses organismos. Embora o número de agentes comercializados ainda seja pequeno e direcionado a algumas pragas típicas de um número reduzido de culturas, a tendência é de que a oferta de inimigos naturais aumente com o surgimento de novos empreendimentos.

O controle biológico experimenta, portanto, forte crescimento no país e, ao ser acoplado ao manejo integrado de pragas, considerando a diversidade de situações regionais e de culturas, terá seu uso ampliado, consolidando-se como recurso indispensável a uma agricultura produtiva e como mecanismo responsável pela conservação do ambiente.

Na presente edição de Ciência & Ambiente, dedicada integralmente ao Controle Biológico de Pragas, o tema foi dividido em quatro partes. Na primeira, é apresentada uma revisão histórica, além da situação atual e das perspectivas dessa concepção no Brasil. Na segunda, são contempladas questões relativas à atuação dos insetos parasitoides, insetos predadores e ácaros predadores. O terceiro grupo de artigos concentra-se nos diferentes agentes microbianos de controle biológico, com ênfase para bactérias, fungos, vírus e nematoides entomopatogênicos. Na quarta e última parte são reunidas informações atualizadas a respeito do controle biológico aplicado nas culturas de soja, cana-de-açúcar, milho, trigo, frutíferas de clima temperado e em cultivos protegidos.

O elenco de mais de três dezenas de autores é particularmente representativo das principais instituições brasileiras, públicas e privadas, envolvidas em pesquisas sobre o tema, com destaque para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), a Universidade Estadual Paulista (UNESP/Jaboticabal), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), entre outras de igual renome e importância.

O controle biológico nunca foi tão atual e demandado, uma vez que, a partir de 2009, passamos a ocupar o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. A mudança deste cenário requer necessariamente uma nova forma de se fazer agricultura, levando-se em consideração as exigências de preservação ambiental e também as demandas pelo incremento na produção de alimentos saudáveis.

Ao fim e ao cabo, espera-se que os tópicos apresentados na 43ª edição da revista Ciência & Ambiente possam contribuir para a difusão e consolidação das alternativas biológicas como método de controle de pragas em cultivos agrícolas no Brasil, na América do Sul e em outros quadrantes do planeta.