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Teoria Ecológica

Editores convidados
Pascal Acot
Paulo R. Guimarães Jr.

Julho/Dezembro de 2009

Editorial

Qual a importância da teoria ecológica para a ciência e os cientistas? Quais as tendências, os rumos, o sentido que se pode extrair do acervo de conhecimentos já consolidados no âmbito da Ecologia? E mais, qual o impacto desses saberes quando colocados à disposição da sociedade do século XXI?

A teoria ecológica, sobretudo após a emergência da ideia ecossistêmica, produziu, sem sombra de dúvidas, uma verdadeira revolução no nosso modo de ver o mundo.

As relações entre a humanidade e a natureza jamais poderiam ser as mesmas após, por exemplo, a elegante e engenhosa solução proposta pelo jovem ecólogo norte-americano Raymond Lindeman, no início da década de 1940, para o que viria a ser a unidade ecológica fundamental, o ecossistema.

Os múltiplos movimentos contemporâneos, em particular aqueles de cunho ambiental que hoje exercem considerável influência em escala global, igualmente se alimentam, e por vezes de modo indevido, dos princípios e dos progressos da ciência ecológica.
A propósito, os avanços do novíssimo ramo da ciência ganharam gradativa sistematização em importantes compêndios publicados por grandes ecólogos como Eugene Odum, Ramón Margalef e Roger Dajoz. Em complemento, a história da Ecologia, em toda a sua riqueza e complexidade, vem sendo reconstituída em obras admiráveis, como as de autoria de Pascal Acot, Jean-Paul Deléage e Jean-Marc Drouin, entre outros.

Convém lembrar, contudo, que nas últimas décadas a ciência em geral passou a experimentar elevado grau de especialização, de um lado, e crescente volume de produção, de outro. Tal combinação tende a produzir intensa pulverização de saberes, fato que demanda novos e continuados esforços de síntese, especialmente quando se deseja compreender o sentido e o significado das informações geradas por diferentes pesquisadores nas diversas regiões do planeta. Dito de outro modo, periodicamente impõe-se a necessidade de estabelecer o que se costumava designar de “estado da arte” sobre determinado campo do conhecimento.

É com esse espírito que os editores de Ciência & Ambiente elegeram o tema Teoria Ecológica para análise no presente volume. Nesse contexto científico e diante de seus desdobramentos atuais, buscou-se apresentar um balanço, tão abrangente quanto possível, da ciência ecológica e também apontar tendências das investigações que se desenrolam nessa área, por todos considerada vital.
Da mesma forma que na 34ª edição dedicada às Mudanças Climáticas, materializou-se nova e produtiva aproximação entre pesquisadores e pensadores da França e do Brasil, representados nas figuras dos editores convidados, respectivamente, Pascal Acot (Centre National de la Recherche Scientifique) e Paulo Guimarães Jr. (Universidade de São Paulo).

As críticas e as perspectivas da teoria, as reiteradas tentativas de aplicação da ideia ecossistêmica às sociedades humanas, as múltiplas possibilidades de estudo dos ecossistemas, considerando os elementos históricos, o papel da biodiversidade, as variantes genéticas, os padrões estatísticos, entre outras vertentes analíticas, dão forma a uma edição que, salvo melhor juízo, demonstra a vitalidade de Ciência & Ambiente.
Às vésperas de completar seu 20º aniversário, a revista apresenta aos leitores outra inovação: a publicação de artigos em língua francesa, além das línguas espanhola e portuguesa, ambas já contempladas desde a sua fundação em 1990. Essa transformação remete ao que se poderia chamar de uma visão de mundo ou de uma expressão cultural, na qual a diversidade, inclusive linguística, constitui valor fundamental para a humanidade.

Ao fim e ao cabo, trata-se mesmo de discernir o futuro reservado para a espécie humana (e por que não, para as demais espécies que habitam o mesmo espaço) e o tipo de relação que pode ser estabelecida com o meio natural para que tal futuro se materialize e se sustente ao longo do tempo.
Ou, como escreve o filósofo e historiador Pascal Acot em sua História da Ecologia:

Produzindo seus meios de existência num processo cada vez mais complexo e intensificado de transformação da natureza, os homens chegaram […] a um momento em que os efeitos perversos desse processo […] os conduzem a se interrogarem sobre o próprio futuro de sua espécie.

É certo que o conhecimento ecológico é um elemento de destaque nessa equação, embora não seja o único de seus componentes. Ocorre que boa parte das questões pertinentes ao nosso futuro se resolve nos terrenos, cada vez mais globais, da economia, da política e das relações sociais. Disso não há como escapar, muito menos com posturas ingênuas e românticas tão a gosto de intrépidos militantes que, corajosamente é verdade, empunham as discutíveis bandeiras ambientalistas.

ÉDITORIAL

Quelle est l’importance de la théorie écologique pour la science et les scientifiques? Quelles seraient les tendances, les directions, les significations que l’on peut dégager de l’ensemble du savoir acquis dans le domaine de l’écologie? Enfin, quels impacts peuvent avoir ces connaissances lorsqu’elles sont mises à la disposition de la société du XXIe siècle?

La théorie écologique, surtout après l’émergence de la pensée écosystémique, a entraîné sans aucun doute une véritable révolution dans la manière dont on voit le monde. Jamais les relations entre l’humanité et la nature ne pourraient être les mêmes après la solution ingénieuse et sensible proposée par le jeune écologue américain Raymond Lindeman, au début des années 1940, pour ce qui serait défini comme l’unité écologique fondamentale, c’est-à-dire l’écosystème.

Les divers mouvements contemporains, en particulier ceux qui ont affaire à l’environnement dont l’influence est aujourd’hui considérable à l’échelle globale, se nourrissent des principes et des progrès de la science écologique. À propos la systématisation des connaissances de cette nouvelle branche scientifique a été enregistrée au fur et à mesure de leurs progrès par des écologues renommés tels que Eugène Odum, Ramón Margalef et Roger Dajoz. Par ailleurs, l’histoire de l’écologie, avec toute sa richesse et complexité se construit aujourd’hui dans des oeuvres admirables signées par Pascal Acot, Jean-Paul Deléage, Jean-Marc Drouin et d’autres encore.

Il faut remarquer cependant que la science en général a éprouvé dans les dernières décennies un rythme de spécialisation de plus en plus intense et qu’elle a vu multiplier le volume de sa production. Une telle combinaison encourage la pulvérisation des savoirs, ce qui demande de nouveaux et continuels efforts de synthèse, surtout quand on veut comprendre le sens des informations produites par de différents chercheurs d’inégales régions de la planète. Autrement dit, il s’impose de temps en temps l’établissement de ce que l’on appelle “l’état d’art” d’un certain nombre de connaissances.

C’est avec cet esprit que les éditeurs de Ciência & Ambiente ont choisi la Théorie Écologique pour thème de ce numéro. On présente ici un bilan aussi général que possible de la science écologique et des principales recherches entreprises à l’heure actuelle dans ce champs de la connaissance humaine, considerée par tous comme vital.

De même que pour la 34e édition consacrée aux Changements Climatiques, nous essayons encore une fois le rapprochement productif entre des penseurs et des chercheurs de la France et du Brésil, représentés respectivement par Pascal Acot (Centre National de la Recherche Scientifique) et Paulo Guimarães Jr. (Universidade de São Paulo), qui ont donné ici leur contribution inestimable comme co-éditeurs.
Les critiques et les nouvelles perspectives de la théorie en question, les tentatives réitérées d’application de la pensée écosystémique aux sociétés humaines, les multiples possibilités d’études des écosystèmes compte-tenus les éléments historiques, le rôle de la biodiversité, les variantes génétiques, les patrons statistiques, parmi d’autres approches analytiques, donnent forme à une édition qui démontre, paraît-il, la vigueur académique de Ciência & Ambiente.

Près de sa 20e anniversaire, la revue présente aux lecteurs une autre nouveauté: des articles en langue française, qui viennent s’ajouter aux publications en portugais et en espagnol, langues dont elle se sert depuis sa parution en juillet 1990. Cette innovation se rapporte à une certaine vision du monde ou une expression culturelle selon laquelle la diversité – linguistique y comprise – constitue une valeur fondamentale pour l’humanité.

En conclusion, il s’agit de discerner le futur reservé à l’espèce humaine (et pourquoi pas aux autres espèces habitant le même espace) et aussi le type de relation qui peut être établi avec le milieu naturel pour qu’un tel futur soit viable et se soutienne le long du temps. Autrement dit, selon le philosophe et historien Pascal Acot dans son Histoire de l’Ecologie,

Produisant leurs moyens d’existence dans un processus sans cesse complexifié et intensifié de transformation de la nature, les hommes sont parvenus […] à un moment où les effets pervers de ce processus […] les conduisent à s’interroger sur l’avenir même de leur espèce.

Il est certain que le savoir écologique est un élément important de l’ équation, bien qu’il n’en soit pas le seul. Il s’ensuit qu’une grande partie de ces questions se résout sur les terrains chaque fois plus globaux de l’économie, de la politique et des relations sociales. Il n’y a pas moyen d’échapper à cette constatation, moins encore avec des attitudes naïves ou romantiques si chères à de braves militants qui courageusement, c’est vrai, empoignent les discutables drapeaux écologistes.

Artigos

CRITIQUES RÉCENTES ET PERSPECTIVES ACTUELLES DE LA THÉORIE DES ÉCOSYSTÈMES (CRÍTICAS RECENTES E PERSPECTIVAS ATUAIS DA TEORIA DOS ECOSSISTEMAS)
Denis Couvet e Anne Teyssèdre

RÉGULATIONS ÉCOSYSTÉMIQUES ET SOCIÉTÉS HUMAINES (REGULAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIEDADES HUMANAS)
Pascal Acot

HISTOIRE DU CONCEPT D’ÉCOSYSTÈME (HISTÓRIA DO CONCEITO DE ECOSSISTEMA)
Patrick Matagne

EXTINCTION ET FONCTIONNEMENT DES ÉCOSYSTÈMES (EXTINÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS)
Julien Delord

LE RÔLE DE LA BIODIVERSITÉ DANS LE FONCTIONNEMENT DES ÉCOSYSTÈMES (O PAPEL DA BIODIVERSIDADE NO FUNCIONAMENTO DOS ECOSSISTEMAS)
Dominique Gravel, Isabelle Gounand e Nicolas Mouquet

ESPECIAÇÃO ESPONTÂNEA EM POPULAÇÕES ESPACIALMENTE DISTRIBUÍDAS E PADRÕES DE DIVERSIDADE (ESPÉCIATION SPONTANNÉE EN POPULATIONS DISTRIBUÉES DANS L’ESPACE ET PATRONS DE DIVERSITÉ)
Elizabeth M. Baptestini e Marcus A. M. de Aguiar

AS IMPLICAÇÕES ECOLÓGICAS DA VARIAÇÃO INTRAPOPULACIONAL (LES IMPLICATIONS ÉCOLOGIQUES DE LA VARIATION DES INDIVIDUS À L’INTÉRIEUR D’UNE POPULATION)
Márcio S. Araújo e Sérgio F. dos Reis

COMPONENTES FILOGENÉTICOS E ADAPTATIVOS EM PADRÕES ECOGEOGRÁFICOS (COMPOSANTS PHILOGÉNÉTIQUES ET ADAPTATIFS SELON DES PATRONS ÉCOGÉOGRAPHIQUES)
José Alexandre Felizola Diniz-Filho e Levi Carina Terribile

DISTRIBUIÇÕES DE ABUNDÂNCIAS DE ESPÉCIES (DISTRIBUTION D’ABONDANCES D’ESPÈCES)
AVANÇOS ANALÍTICOS PARA ENTENDER UM PADRÃO BÁSICO EM ECOLOGIA (PROGRÈS ANALYTIQUES POUR COMPRENDRE UN PATRON EN ÉCOLOGIE)
Paulo Inácio K. L. Prado

A ESTRUTURA E A DINÂMICA EVOLUTIVA DE REDES MUTUALÍSTICAS (LA STRUCTURE ET LA DYNAMIQUE ÉVOLUTIVE DES RÉSEAUX MUTUALISTES)
Paulo R. Guimarães Jr.