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História Natural de Santa Maria

Editor
Delmar Bressan

Janeiro/Junho de 2009

Editorial

Paisagem, geologia, clima, solos, hidrografia, vegetação, fauna, fósseis vegetais, fósseis animais. Essa coleção de elementos habitualmente utilizada para retratar as características ambientais de cada lugar, serve também como referência para o trabalho de reconstituição da história natural de Santa Maria e de seu entorno regional, tema da 38ª edição de Ciência & Ambiente.

Há, por óbvio, interações notáveis entre o meio natural e a aglomeração humana tradicionalmente conhecida como Santa Maria da Boca do Monte.
A geografia regional, com seu soberbo contraste entre a montanha recoberta de florestas e as coxilhas suaves ocupadas pelos campos e por matinhas ciliares, se faz sentir no processo de expansão da cidade.

Em igual medida, as atividades engendradas pela mão humana, ou mais especificamente pelos citadinos santa-marienses, deixam marcas indeléveis na paisagem. Basta “armar o olhar” para perceber tais transformações, com a devida ressalva de que muitas das intervenções não são portadoras de motivos de orgulho. É o caso das crateras resultantes da exploração dos paredões basálticos ou mesmo da supressão sistemática de cursos de água no perímetro urbano.

Além dessa interdependência evidente, outros elementos explicativos – antropológicos, sociológicos, econômicos etc. –, poderiam ser agregados às análises destinadas a decifrar o modelo de desenvolvimento assumido pela cidade, desde a sua origem, no acampamento de 1797, até os dias atuais, povoada por milhares de almas. Sem preocupação cronológica, a presença de ordens religiosas e de agrupamentos militares, as levas de imigrantes, o advento da ferrovia e mais recentemente de organizações de cunho acadêmico, entre outros aspectos, exercem influência considerável, e nem sempre positivas, nas escolhas dos cidadãos e de suas instâncias de poder, inclusive no que diz respeito às relações com o meio natural circundante. Tais linhas investigativas, embora importantes, não são objetos diretos de exame nesta edição, porém ainda estão a requerer tratamento aprofundado dos pensadores locais e regionais.

À parte o seu valor intrínseco, essa breve história natural de Santa Maria, aqui materializada, atende a um requerimento didático, qual seja, o de reunir em uma só fonte a série de variáveis ambientais que, quando conjugadas, permitem vislumbrar o conjunto paisagístico que tanto singulariza a região central do Rio Grande do Sul. Portanto, os acadêmicos, em particular os da área de ciências naturais, bem como os demais interessados, terão à disposição informações relevantes para o correto entendimento do tema.

Por outro lado, parcela significativa dos habitantes de Santa Maria – quer pela frenética luta diária em seus afazeres, quer pela visão entrecortada pelos numerosos espigões construídos nas últimas décadas, quer pelas dificuldades de compreensão do meio físico – parece ter perdido a noção da grandiosidade, do valor ecológico e da beleza da paisagem em que a cidade está engastada.

Sustentados pela premissa de que há uma correlação direta entre o conhecimento do patrimônio natural e sua valorização, os editores, ao aglutinar dados, informações, descrições e reflexões produzidas por estudiosos de diferentes matizes científicos, buscam inserir o presente volume no esforço necessário de (re)valorização de Santa Maria e de seu imponente cenário, tão bem descrito por numerosos viajantes, brasileiros e estrangeiros, que ao longo do tempo com ele travaram contato.

As características geológicas, as feições do relevo e sua influência sobre certos fenômenos climáticos, a variedade de tipos de solos, as peculiaridades hidrográficas, o contraste entre a vegetação florestal e campestre, a diversidade de grupos de fauna e o rico e vulnerável acervo paleontológico que se esparrama pela faixa central do Estado, entre outras abordagens, são apresentadas aos leitores em quase uma dezena de artigos, sem contar o complemento oferecido por ilustrações, mapas e imagens que enriquecem e facilitam a compreensão.

Cabe ressaltar, ainda, os trabalhos fotográficos de Ronai Pires da Rocha (capa) e de Rafael Happke e Fabiano Dallmayer (quarta capa/orelha) que emprestam criatividade, beleza e significado à revista. O mosaico de retratos de tipos humanos da cidade compôs obra comemorativa dos 150 anos de emancipação político-administrativa de Santa Maria, completados em 17 de maio de 2008.

Enfim, os editores de Ciência & Ambiente, após quase duas décadas de existência da publicação, ainda buscam iluminar facetas da história ecológica que, aparentemente restritas e localizadas em termos geográficos, são, sem sombra de dúvidas, de interesse universal.

Artigos

A PAISAGEM DE SANTA MARIA NA PERSPECTIVA DE ANTIGOS VIAJANTES
José Newton Cardoso Marchiori e Valter Antonio Noal Filho

GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA DE SANTA MARIA
Pedro Luiz Pretz Sartori

O CLIMA DE SANTA MARIA
Arno Bernardo Heldwein, Galileo Adeli Buriol e Nereu Augusto Streck

SOLOS DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA
Ricardo Simão Diniz Dalmolin e Fabrício de Araújo Pedron

HIDROGRAFIA DE SANTA MARIA
Fabrício J. Sutili, Miguel A. Durlo e Delmar A. Bressan

A VEGETAÇÃO EM SANTA MARIA
José Newton Cardoso Marchiori

A FAUNA DE SANTA MARIA
Sonia Zanini Cechin, Ana Beatriz Barros de Morais, Nilton Carlos Cáceres, Sandro Santos, Carla Bender Kotzian, Everton Rodolfo Behr, Jéferson Steindorff de Arruda e Franchesco Della Flora

OS VEGETAIS FÓSSEIS DE SANTA MARIA
Robson Tadeu Bolzon e Inês Azevedo

OS VERTEBRADOS FÓSSEIS DE SANTA MARIA
Cesar Leandro Schultz