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Pensando a Evolução

Editores convidados
Antonio Augusto Passos Videira
Charbel El-Hani
Elgion Loreto

Janeiro/Junho de 2008

Editorial

O pensamento evolucionista tem dado vez a debates importantes desde o século XVIII, quando a idéia de que os sistemas naturais se encontram sempre em transformação começou a ganhar mais e mais defensores. A revolução transformista não se resumiu às ciências da vida, mas teve lugar nos diversos campos do conhecimento, da física à geologia. Não há dúvida, contudo, de que foi no domínio da evolução biológica que o transformismo teve o impacto mais radical. Lamarck propôs a primeira explicação sistemática para a transformação dos seres vivos, a primeira teoria da evolução, na virada para o século XIX. A teoria jamais teve grande aceitação, mas desempenhou um papel histórico decisivo, entre outras razões, porque trouxe consigo a própria idéia de uma ciência unificada dos seres vivos: a biologia.

Desde que o naturalista inglês Charles Darwin publicou, em 1859, o livro A Origem das Espécies, sua teoria da evolução tem suscitado reações bastante diversas, favoráveis e contrárias, porém sempre apaixonadas. Não constitui exagero afirmar que, dada a conhecer à comunidade científica e ao público em geral, a teoria darwinista nunca mais deixou de excitar a imaginação das pessoas, sejam cientistas ou leigos. Essa teoria também seduziu pensadores dos mais diversos matizes, exatamente por representar uma completa reviravolta em nossa compreensão sobre nós mesmos e sobre o mundo ao nosso redor.

Se, num primeiro momento, o evolucionismo irritava a alguns por criar um distanciamento da idéia de que seríamos criaturas talhadas à imagem e semelhança de um Criador, sugerindo que o ser humano tem uma origem animal (sabe-se hoje que chimpanzés, gorilas, orangotangos e humanos são muito mais próximos do que se pensava), na atualidade parece ser incômodo por indicar uma base biológica para todo comportamento humano, concepção reforçada pela genética.

No interior da comunidade científica, houve, e ainda há, debates relevantes sobre a teoria da evolução. O seu impacto se espalha por domínios muito diferentes, como a religião, a filosofia e, é claro, a ciência. Para usar um termo em voga, a teoria darwinista é, em essência, interdisciplinar. O que não deve causar espanto, uma vez que a mesma aborda a natureza de todas as coisas vivas e a nossa própria natureza. Entre as questões que suscita, encontra-se a interrogação, tão velha quanto a própria humanidade, sobre qual é a natureza do ser humano. A novidade trazida pela evolução está na possibilidade de responder a essa pergunta “olhando” para o mundo natural. Ou seja, partindo do princípio de que o ser humano é fruto ou resultado de processos naturais.

Reconhecendo o significado e a atualidade do tema, Ciência & Ambiente, em sua 36ª edição, reúne artigos que discutem o pensamento evolutivo a partir de uma multiplicidade de perspectivas teórico-conceituais. Não se trata, pois, de privilegiar qualquer posição específica. Ao contrário, o que se busca é mostrar a multiplicidade de olhares sobre a evolução que, segundo o físico austríaco Ludwig Boltzmann, era a teoria científica mais importante do século XIX, condição que permanece preservada até os dias atuais.
É muito provável que nunca sejamos capazes de encerrar os debates em torno da teoria darwinista da evolução. Essa impossibilidade de atingirmos uma resposta última e definitiva acerca da natureza dessa teoria e das suas eventuais aplicações não deveria nos incomodar. Afinal, a riqueza da espécie humana se encontra, em última instância, na variabilidade que é capaz de produzir, seja no domínio da vida prática, seja no domínio da vida teórica.

Artigos

PERSPECTIVAS SOBRE O PENSAMENTO EVOLUTIVO
Francisco Mauro Salzano

LAMARCK E A EVOLUÇÃO ORGÂNICA
AS RELAÇÕES ENTRE O VIVO E O NÃO-VIVO
Lilian Al-Chueyr Pereira Martins

DARWIN E A EVOLUÇÃO HUMANA
DESFAZENDO ALGUNS MITOS
Nelio Bizzo

ASPECTOS METODOLÓGICOS DA RECEPÇÃO DA TEORIA DE DARWIN
Paulo Cesar Coelho Abrantes

DARWIN, WALLACE, FISHER, HAMILTON E O CONCEITO DE SELEÇÃO SEXUAL
Carlos Roberto Fonseca

A IDÉIA DE EVOLUÇÃO COMO PONTE ENTRE CIÊNCIA, HISTÓRIA E FILOSOFIA
OS EXEMPLOS DE MACH E BOLTZMANN
Leonardo Rogério Miguel e Antonio Augusto Passos Videira

ANIMAIS SOCIAIS, COGNIÇÃO COOPERATIVA, EVOLUÇÃO E CULTURA
O QUE NÓS TEMOS A VER COM ISSO?
Maria Cátira Bortolini

ADAPTACIONISMO VERSUS EXAPTACIONISMO
O QUE ESTE DEBATE TEM A DIZER AO ENSINO DE EVOLUÇÃO?
Claudia Sepulveda e Charbel Niño El-Hani

PARADIGMAS PRÉ-EVOLUCIONISTAS, ESPÉCIES ANCESTRAIS E O ENSINO DE ZOOLOGIA E BOTÂNICA
Dalton de Souza Amorim

A EVOLUÇÃO DOS ALGORITMOS MENTAIS
Renato Zamora Flores e João Paulo Schwarz Schüler

ÉTICA E EVOLUÇÃO
Karla Chediak