Nessa ótica, os temas selecionados ao longo do tempo sempre perseguiram idéias de alcance global, mesmo quando aparentavam ser de escala regional, como no caso dos sítios paleontológicos ou dos núcleos de arenização observados em território sul-rio-grandense. O patrimônio fossilífero e o processo ecológico (e antrópico) em questão, sem sombra de dúvidas, são capazes de despertar paixões além-fronteiras do Brasil ou mesmo da América do Sul, uma vez que representam momentos da própria história natural do planeta.

É justamente como parte desse esforço de internacionalização que deve ser compreendida a 34ª edição da revista dedicada ao tema Mudanças Climáticas. Diga-se, projeto editorial concebido bem antes do boom midiático observado em 2007 a partir da divulgação, em Paris, do último relatório do IPCC (International Panel on Climate Change). Para a montagem do número, dividido em partes iguais entre estudiosos franceses e brasileiros, os dois editores convidados – Pascal Acot e Carlos Nobre, pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS/França) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/Brasil), respectivamente – emprestaram notável colaboração.

Ao fim e ao cabo, apresentamos ao público um alentado conjunto de textos acadêmicos, porém em linguagem acessível aos leitores não especializados. Textos que abordam desde a evolução do clima até as projeções de mudanças, bem como algumas das repercussões aventadas para setores sensíveis da atividade humana, entre os quais a agricultura. Sem catastrofismos e sem sensacionalismos, como convém a um veículo que se pretende portador de idéias embasadas no conhecimento científico.

Sobre tais excessos, que saltam aos olhos na cena atual, cabe um breve comentário. Estudos dessa magnitude, com tal número e grandeza de variáveis e que ainda exigem complementação dos dados hoje disponíveis, devem ser mostrados com todas as cautelas pelos pesquisadores, pelas instituições responsáveis e, particularmente, pelos meios de comunicação. Em assim não sendo, geram-se incertezas, desassossegos e, no limite, o pânico entre as populações supostamente afetadas. A boa ciência pressupõe boas formas de interação com o público. Pressupõe cientistas menos interessados nos holofotes da mídia e mais concentrados em desenvolver formas claras e objetivas de contato com uma legião de cidadãos ávidos por informações sobre o clima e tantos outros assuntos pertinentes ao mundo da ciência.

É com esse espírito universalista e ao mesmo tempo parcimonioso que entregamos aos leitores mais uma edição de Ciência & Ambiente.