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Amazônia: Economia e Políticas Públicas

Editor convidado
Marcelo Leite

Janeiro/Junho de 2006

Editorial

Entre a década de 70 e metade dos anos 80, em pleno regime militar no Brasil, foram realizados importantes levantamentos sobre os fundos naturais do país. Denominado RADAMBRASIL, o projeto destinava-se a produzir informações sobre geologia, geomorfologia, solos, clima, vegetação e uso da terra nas diferentes regiões brasileiras.

A partir da publicação do primeiro volume da coleção, em 1973, contendo alentadas descrições dos recursos naturais, além de tabelas, fotografias e mapas, já estava à disposição de planejadores e demais estudiosos um rico painel sobre as características regionais, com ênfase para a Amazônia. Nas décadas subseqüentes, novas ferramentas foram agregadas ao acervo de referência passível de uso por técnicos e suas instituições, entre elas, as imagens regulares de satélites e os resultados do crescente número de pesquisas levadas a cabo.

Sendo assim, não é razoável admitir que, ainda hoje, a complexidade da região amazônica seja representada em forma de incômodas generalizações, por vezes bastante rudimentares. Se é verdade que tomadas gerais são válidas para facilitar a percepção dos espaços naturais, não é menos verdade que as mesmas se tornam impróprias quando se trata de iluminar detalhes, particularidades ou, no caso, a diversidade de combinações ecológicas que caracteriza esse domínio fitogeográfico.

O exemplo dos solos amazônicos é ilustrativo da inconveniência de tais simplificações. Durante um longo tempo sustentou-se que os solos, em razão da baixa fertilidade, carência de fósforo, saturação de alumínio e tendência à erodibilidade, eram completamente inadequados do ponto de vista agronômico, servindo apenas à função florestal. Sabe-se, no entanto, que entre o mosaico pedológico disponível – Latossolos, Argissolos, Plintossolos etc. –, alguns tipos se destacam por apresentar boas características estruturais, texturais e de fertilidade. Por conseguinte, há solos com potencial agrícola, o que explica a expansão de cultivos como café, cacau, pimenta-do-reino, arroz, milho e frutas diversas. Cabe lembrar ainda que investigações edáficas recentes e mesmo novas variedades de plantas têm permitido a ampliação da área agricultável, especialmente nas zonas de cerrado. À parte o equívoco da generalização, a questão essencial parece ser outra, qual seja, a pertinência ou não do avanço de culturas como a da soja na Amazônia. Tudo indica que a resposta seja não.

Outro tema recorrente é o que diz respeito à vocação florestal da região. Embora a vocação de fato exista, não basta apenas desfraldar essa bandeira. Há sim que dar conseqüência ao potencial florestal, seja utilizando alternativas consolidadas de manejo, caso da Exploração de Impacto Reduzido (EIR), seja investindo fortemente em pesquisa e desenvolvimento de outras técnicas que persigam a idéia motriz de sustentabilidade na produção, como contraponto ao extrativismo predatório.

Os métodos que visam ao rendimento sustentado e uso múltiplo da floresta apresentam acentuado grau de elaboração em países que possuem tradição no cultivo de maciços arbóreos homogêneos ou compostos por poucas espécies. As formações nativas dos trópicos, essencialmente mais complexas, requerem conhecimentos silviculturais e tecnológicos bastante específicos – qualidade dos locais de produção (sítios), taxas de incremento e de regeneração das principais essências, diâmetros adequados de corte, formas de aproveitamento da matéria-prima, entre outros –, orientados pelo seguinte princípio: o corte de madeira deve corresponder ao crescimento das árvores, de modo a garantir a perpetuação da produtividade madeireira e da diversidade biológica dos ecossistemas.

Não há mágica que possa fazer desaparecer a demanda por madeira tropical. Resta, pois, a sua regulação com base no conhecimento, em grande parte ainda a ser gerado, e no efetivo controle público.

 

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