O novo número de Ciência & Ambiente é integralmente dedicado ao exame das possibilidades e limites da Agroecologia, abrangendo questões como: o seu atual estágio de desenvolvimento técnico-científico; o grau de sensibilização, envolvimento e assimilação de seus processos pelas comunidades rurais, notadamente por aquelas que praticam a agricultura familiar; o cruzamento de saberes científicos e tradicionais; os arranjos de cunho sistêmico que englobam florestas, pecuária e cultivos agrícolas; e, a análise das políticas públicas orientadas para atender às novas demandas agroecológicas.

No fim das contas, observando-se pelo prisma acadêmico, parece consensual que a trajetória seguida até aqui pela Agroecologia revela virtudes e igualmente insuficiências e descontinuidades. Mesmo partindo de uma idéia abrangente e integradora do ponto de vista filosófico e ajustada aos princípios da ciência ecológica, há certas lacunas a serem preenchidas no campo agroecológico, entre elas, as que dizem respeito ao ainda frágil suporte científico e tecnológico imprescindível para sustentar o que se pretende seja um novo paradigma para a agricultura. Por exemplo, a combinação de múltiplas variáveis em contextos interdisciplinares ou mesmo transdisciplinares tem sido até hoje mais um exercício de retórica do que prática consistente e afirmada em todas as áreas do conhecimento, tanto no meio universitário quanto fora dele. Da mesma forma, a busca da sonhada harmonia nas relações entre a sociedade e a natureza ainda carece de instrumentos suficientes para edificar experiências, por todos esperadas, que serão capazes, ao se reproduzirem com rapidez e amplitude, de revigorar a condição humana e a vida em escala planetária.

Portanto, a consolidação da Agroecologia ou de outras vertentes, por alguns abrigadas no conceito amplo de Agricultura Sustentável, não pode prescindir de novos modos de fazer ciência e da construção de mecanismos solidários de desenvolvimento rural que, na medida do possível, pairem acima de tradições ideológicas. Só assim se poderá aquilatar o real alcance de cada concepção para responder aos impasses que permeiam a produção agrícola, por vezes tratada como um mero negócio, e as formas de organização social, considerando inclusive as complexas imbricações que caracterizam o mundo atual.