28
Filosofias da Natureza
Editores convidados
Ronai Pires da Rocha
Antonio Augusto Passos Vieira
Janeiro/Junho de 2004
Editorial
A escolha do tema da 28ª edição de Ciência & Ambiente – Filosofias da Natureza – foi cercada de sentimentos que devem ser repartidos com nossos leitores. A intenção foi a de produzir um número inteiramente dedicado ao exame da natureza, com ênfase no ponto de vista filosófico, mas sem deixar de incluir o enfoque de outros campos do conhecimento. “Natureza” é um membro da família de conceitos a que pertencem “ciência” e “ambiente”, mas que, nos quase quinze anos de nossa revista, não havia recebido um tratamento à parte.
Mesmo o mais desavisado leitor é capaz de farejar os riscos de tal empreitada. Esse conceito – natureza – é, a um só tempo, amplo e fundamental. E tem sido estudado desde o início da história da filosofia e da ciência. Houve um momento na história do pensamento humano em que surgiu como uma disciplina, a “Filosofia da Natureza”, da qual pensadores como Herder, Goethe, Schelling e Hegel foram expoentes. Esses filósofos, inspirados na própria história da filosofia, trabalharam pela afirmação de uma disciplina com direitos próprios, e durante algum tempo a expressão foi usada no singular.
O crescimento das ciências naturais no século dezenove, no entanto, provocou um enorme enriquecimento dos aspectos que devem ser levados em conta na reflexão sobre a natureza, e isso fez com que as abordagens unificadoras, de cunho romântico, em torno de uma filosofia da natureza, ficassem sufocadas. Hoje muito pouco se fala em “filosofia da natureza”, que, como disciplina curricular, foi desaparecendo aos poucos. Adotamos, portanto, neste número, a expressão “Filosofias da Natureza”, para indicar os esforços dos pensadores em elucidar os diversos aspectos do tema: históricos, filosóficos, científicos, políticos.
Nunca falamos tanto sobre a natureza como nas últimas décadas. Nesse período vimos surgir a crise ecológica, provocada por nossas múltiplas, e por vezes desastradas, intervenções no ambiente natural. Diante deste quadro, precisamos mais do que nunca retomar o debate sobre como compreendemos tal conceito, que, por um lado, é movediço – pois parece se alterar na medida em que se alteram nossas ciências – e que, por outro lado, é intuitivo e cotidiano. Desde o campo da ética – quando questionamos se uma ação pode ser justificada pelo fato de ser a favor ou contra a natureza – até o campo da ciência de ponta, estamos sempre, de forma implícita, lidando com esse conceito, mas nem sempre nos damos o tempo para pensar nas formas como o tomamos, como o compreendemos.
Artigos
A FILOSOFIA DA NATUREZA DE ARISTÓTELES
Lucas Angioni
NATURA NATURANS, NATURA NATURATA
O SISTEMA DO MUNDO MEDIEVAL
Noeli Dutra Rossatto
A CONCEPÇÃO CARTESIANA DA NATUREZA
Albertinho Luiz Gallina
NATUREZA EM KANT
Christian Hamm
HISTÓRIA NATURAL E TELEOLOGIA
Ricardo José Corrêa Barbosa
PODE A NATUREZA HUMANA SER BELA?
A FILOSOFIA DA NATUREZA NA ALEMANHA DO SÉCULO XIX
Márcia Cristina Ferreira Gonçalves
FILOSOFIA DA NATUREZA E EVOLUCIONISMO
REPENSANDO O NATURALISMO FILOSÓFICO
Karla Chediak
O CONCEITO DE NATUREZA NA FENOMENOLOGIA HERMENÊUTICA
Róbson Ramos dos Reis
VALOR, NATUREZA E PATRIMÔNIO NATURAL
Antonio Carlos Robert Moraes
NATUREZA E CIÊNCIA MODERNA
Antonio Augusto Passos Videira
O MUNDO QUE NOS PERTENCE
Antonio Luciano Leite Videira
A COMPLEXIDADE ESTÁ NUA E É MUITO MAGRA
Renato Zamora Flores