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Agricultura Sustentável

Editores convidados
Dalvant José Reinert
José Antonio Costabeber

Julho/Dezembro de 2003

Editorial

Afinal, que significados o termo sustentável pode assumir na cena contemporânea, já que por tantos empregado e para tão variados fins?
Em princípio, sustentável nos remete a algo duradouro, quase permanente, significação que se pode aplicar às incontáveis faces da atividade humana e ao nosso desejo imanente de influenciar as gerações vindouras com valores e benefícios que nos são caros. Nesse sentido, o vocábulo francês durable parece traduzir com maior perfeição o longo alcance que pretendemos atribuir à palavra sustentável.

Avançando um pouco, podemos dar-lhe contornos mais precisos, à medida que providenciamos aproximações, por exemplo, com o mundo natural. Neste caso, o manejo dos recursos naturais em bases sustentáveis passa a requerer a consideração de um elemento decisivo: a capacidade de regeneração dos sistemas, que, sabe-se, não é infinita.

A idéia de sustentabilidade, no entanto, não resultaria completa se tomada apenas em sua dimensão ecológica. Portanto, é imprescindível que se adicionem as suas dimensões econômica e social, que a complementam e lhe conferem um novo sentido. Logo, em qualquer tentativa de reflexão ou de investigação sobre o tema que se pretenda levar a cabo, é desejável e mesmo necessário precisar o objeto de análise e o universo que lhe é pertinente, sob pena de gerar-se resultado impreciso, vago e impróprio.

Ciente deste e de outros desafios, os editores da revista Ciência & Ambiente lançaram a seguinte questão aos estudiosos dos assuntos ligados à agricultura: será a atividade agrícola desenvolvida nos moldes atuais, sustentável do ponto de vista ecológico? A indagação apresentada, por óbvio, não renunciava ao fato de que o pano de fundo de toda análise deve ser a busca de qualidade de vida e de bem-estar para a sociedade como um todo. Ainda assim, visando estabelecer certo limite para expressão tão ampla e complexa como agricultura sustentável, o foco temático recaiu sobre a sustentabilidade ecológica dos modelos agrícolas postos em prática na atualidade.

Do conjunto expressivo de contribuições que compõem a 27ª edição de Ciência & Ambiente, é possível identificar concepções sobre agricultura com diferenças bem marcadas, porém com alguns pontos não desprezíveis de convergência.

De um lado, a agricultura dita convencional, organizada em torno de monoculturas distribuídas em grandes extensões territoriais e do uso intensivo de insumos (adubos, inseticidas, herbicidas etc.), a qual vem realizando contínuos movimentos, no sentido de incorporar conhecimentos e técnicas capazes de minimizar os impactos ambientais decorrentes de sua dinâmica de produção. Nessa linha de raciocínio, podem ser contabilizados avanços importantes, como o plantio direto na palha, o controle biológico de pragas, inovações tecnológicas e genéticas, entre outros aspectos. Mesmo que possam ser referidos como racionalizações que apenas corrigem distorções geradas pelo próprio modelo, tais progressos não podem ser colocados debaixo do tapete.

De outra parte, ganham terreno as concepções de agricultura que se estruturam a partir de preceitos ecológicos, com destaque especial para a Agroecologia, campo multidisciplinar de conhecimentos que pretende contribuir na construção de estilos de agricultura de base ecológica e na organização de estratégias de desenvolvimento rural, em acordo com os ideais de sustentabilidade e que reconheçam os saberes ditos tradicionais.
Essa generosa proposição presente na Agroecologia não impede, contudo, uma ponderação recorrente: a dificuldade de generalização ou, em outras palavras, o fato de que tais alternativas seriam aplicáveis em pequena escala, como no caso da agricultura familiar.

Mesmo considerando as distinções de natureza paradigmáticas existentes entre estas concepções agrícolas, nenhuma pode se dar ao luxo de desconhecer os progressos e transformações alcançados pela outra, fato que torna conspícuos ao menos alguns pontos de convergência, que bem podem ser explorados por pesquisadores, agricultores e pela sociedade em geral.

Artigos

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NO BRASIL
AVANÇOS E PERSPECTIVAS
Paulo Choji Kitamura

QUALIDADE DOS SOLOS E SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS AGRÍCOLAS
José Miguel Reichert, Dalvan José Reinert e João Alfredo Braida

PLANTIO DIRETO NA PALHA
RUMO À SUSTENTABILIDADE AGRÍCOLA NOS TRÓPICOS
Telmo Jorge Carneiro Amado e Flávio Luiz Foletto Eltz

O CONTROLE DE PRAGAS AGRÍCOLAS E A SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA
Flavio Moscardi

IMPACTO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS NA QUALIDADE DA ÁGUA
Danilo dos Santos Rheinheimer, Celso Silva Gonçalves e João Batista Rossetto Pellegrini

LAVOURA ARROZEIRA E RECURSOS HÍDRICOS
Sérgio Luiz de Oliveira Machado, Enio Marchezan, Silvio Carlos Cazarotto Villa e Edinalvo Rabaioli Camargo

AGROECOLOGÍA Y AGROECOSISTEMAS
Stephen R. Gliessman

PLURALISMO EPISTEMOLÓGICO E METODOLÓGICO COMO BASE PARA O PARADIGMA ECOLÓGICO
João Carlos Costa Gomes

A PESQUISA E OS DESAFIOS DA TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA
João Carlos Canuto

AGROECOLOGIA
RESGATANDO A AGRICULTURA ORGÂNICA A PARTIR DE UM MODELO INDUSTRIAL DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Miguel A. Altieri e Clara I. Nicholls

SEGURANÇA ALIMENTAR E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
UMA PERSPECTIVA AGROECOLÓGICA
Francisco Roberto Caporal e José Antônio Costabeber