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Saúde e Meio Ambiente

Editor convidado
Paulo Marchiori Buss

Julho/Dezembro de 2002

Editorial

Em sua 25ª edição, Ciência & Ambiente coloca em debate um tema de grande relevância e atualidade: as relações entre Saúde e Meio Ambiente. O quadro que abrange tais relações não poderia ser mais intrincado, particularmente em regiões e países da América Latina e África. Doenças endêmicas, típicas de zonas tropicais, assumindo proporções epidêmicas. Comprometimento crescente da qualidade das águas para consumo humano e animal. Precariedades no saneamento básico de grande parte das cidades, sobretudo em áreas que bem poderiam ser classificadas de aglomerações urbanas espontâneas. Resíduos ou “restos das atividades humanas” despejados em locais impróprios e inadequados. Novas incidências de tumores malignos provocados por exposição de trabalhadores a produtos químicos utilizados em processos industriais e agrícolas. Profissionais com formação acadêmica dissociada da realidade social, econômica e ambiental. Vigilância sanitária em geral atrasada em relação às transformações ecológicas que põem em risco a saúde humana e a sobrevivência das demais formas de vida.

Há, no entanto, neste cenário complexo e em certa medida caótico, um conjunto de eventos e ações que apontam no sentido do seu correto e justo equacionamento. É o caso das grandes conferências internacionais sobre meio ambiente, saúde, desenvolvimento – Estocolmo, Alma-Ata, Ottawa, Rio de Janeiro, Joanesburgo, entre outras: ao construir linhas de ação em escala planetária, compõem uma espécie de moldura, dentro da qual governos e organizações sociais podem realizar incontáveis iniciativas e movimentos. É bem verdade que, nos países em desenvolvimento, a velocidade de aplicação dessas normas, protocolos e princípios globais é sempre reduzida, em razão do volume e da urgência das demandas e da tímida cooperação financeira por parte dos países desenvolvidos e de instituições multilaterais.

Por outro lado, são dignas de nota as experiências que visam ao enfrentamento de problemas de saúde pública e de suas interações com o meio ambiente. Tomando o Brasil por referência, não há como desconhecer o impacto de programas como os de Saúde da Família, de Renda Mínima, de Erradicação do Trabalho Infantil. Ou os efeitos sanitários e ecológicos resultantes da ampliação das redes de coleta e tratamento de esgoto, de água potável, de coleta seletiva e de reciclagem de resíduos urbanos. Todos a indicar um esforço considerável no sentido de minorar ou mesmo resolver as mazelas sócio-econômicas e de recompor as características dos ambientes naturais. Nessa mesma linha de raciocínio, merece destaque o papel das instâncias de investigação científica, com ênfase para as que realizam estudos sistemáticos sobre doenças endêmicas. Incluem-se, nesta lista, instituições de primeira grandeza como a Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Porto Velho, Rondônia), além de diversos Institutos vinculados às Universidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. É impossível sustentar programas consistentes orientados para as relações entre saúde e meio ambiente sem o aporte contínuo de conhecimentos oriundos destas unidades dedicadas à ciência e à tecnologia.

Ao fim e ao cabo, o que se busca são condições de vida digna para todos, desejo que pode ser resumido numa expressão bem contemporânea: qualidade de vida. Expressão que pressupõe padrões mínimos de saúde individual e coletiva, boas condições de habitação, meio ambiente equilibrado, espaços para lazer e prática de esportes, níveis elevados de educação da população e justa distribuição do trabalho e de seus benefícios.

Artigos

CONSIDERAÇÕES SOBRE CONCEITUALIZAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DA SAÚDE AMBIENTAL
Jacobo Finkelman

DESENVOLVIMENTO, AMBIENTE E SAÚDE
Paulo Marchiori Buss

SANEAMENTO E SEU LUGAR NA SAÚDE AMBIENTAL DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
Léo Heller

VIGILÂNCIA AMBIENTAL EM SAÚDE NO BRASIL
Guilherme Franco Netto e Fernando Ferreira Carneiro

GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
NOVOS PARADIGMAS ASSOCIADOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE
Victor Zular Zveibil

PROTEÇÃO À VIDA AQUÁTICA, PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES E POLÍTICAS DE RECURSOS HÍDRICOS
Daniel F. Buss

DOENÇAS TROPICAIS NO BRASIL
SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS
Marcos Boulos

MALÁRIA E MEIO AMBIENTE
Erney Plessmann Camargo

DENGUE NO BRASIL
HISTÓRICO, SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS
Jarbas Barbosa da Silva Jr., João Bosco Siqueira Jr., Giovanini Evelim Coelho, Ana Cristina da Rocha Simplício, Fabiano Geraldo Pimenta Jr. e Haroldo Sérgio da Silva Bezerra

CÂNCER E MEIO AMBIENTE NO BRASIL
Sergio Koifman

A BASE CIENTÍFICA DA FITOTERAPIA
Benjamin Gilbert, Lúcio Alves e José Luiz Pinto Ferreira

TEMAS AMBIENTAIS NA EDUCAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM SAÚDE
Jadete Barbosa Lampert