De outra parte, o conhecimento disponível acerca das antigas civilizações nos garante que todas desenvolveram, ainda que de modo incipiente, atitudes científicas ou precursoras de ciência.

Os diferentes ofícios ou formas organizadas de caça, pesca ou agricultura, por exemplo, só poderiam ter sido levados a cabo a partir da observação cuidadosa dos processos naturais, sedimentados na razão.

Assim, na história da humanidade, é perfeitamente possível detectar dois domínios distintos, um que se pretende sagrado e outro assumidamente profano. Ou, em outras palavras, os domínios da magia ou da religião e o da ciência.
Desde as primeiras manifestações, a ciência sustenta-se na experiência universal do dia a dia, oriunda da interação homem-natureza, mediada e determinada pela razão.

A magia, por sua vez, estrutura-se segundo as experiências de estados emocionais em que o homem observa mais a si próprio do que a natureza.

Em que pese as discrepâncias, especialmente quanto ao método, que marcam e separam ciência e magia em termos contemporâneos, há entre elas uma história comum.

Ao longo dos tempos, ambas influenciaram-se e confundiram-se, evidenciando, além das diferenças, muitas semelhanças, pois que associadas aos instintos, carências e objetivos humanos.

Neste número, mantendo a tradição da revista, apresentamos diferentes visões sobre essas relações, sem a pretensão de esgotá-las. Talvez, a riqueza do tema esteja exatamente na impossibilidade da palavra final.
Mesmo porque tudo sugere que o dilema aqui tratado tenha traços que representem a própria essência da história do homem.